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Nandx710,
do Jardim Catarina para o Brasil

Por Davi Martins

O Trap do Rio de Janeiro possui raízes periféricas profundas, onde a maioria dos artistas/produtores vem de favelas e de bairros mais pobres, e que conseguem sua ascensão social e maior notoriedade em seu bairro, cidade e estado, e muitos deles sem qualquer contrato com gravadoras, apenas entramos mainstream de maneira independente. 

 

Um exemplo notório é o produtor Nandx710, que possui mais de 90 mil ouvintes mensais no Spotify, além de mais de 30 milhões de streams em suas músicas juntando todas as plataformas de streaming, em especial o sucesso ‘Meu Lado da História’, música que fez em parceria com os trappers Choji (que tem feats com Papatinho, Lil Gabi e Kevin o Chris) e David Gomes. Nessa música, Nandx710 foi também responsável pela mixagem e masterização da música, confira o som no link abaixo.

Nandx 710 é o nome artístico para Fernando Toscano, que é natural de São Gonçalo, do Jardim Catarina (maior loteamento urbano da América Latina), um dos bairros mais perigosos do município.

Fernando bem como a maioria dos fãs de Trap, era muito familiarizado primeiramente com o Rap, mas se encantou pelo estilo de Beat um pouco mais diferente do Boombap tradicional do rap, tendo assim seus primeiros contatos com a cultura Trap no período de 2016/2017, onde ocorreram os grandes booms na cena comercial, tanto nos Estados Unidos, tanto no Brasil, ouvindo artistas como Lil Uzi Vert, XXXTentacion e Playboy Carti.

Fernando conta que começou a trabalhar com Trap justamente por encontrar nas batidas uma diferenciação muito interessante:

“Acredito que pelo fato de eu gostar de trabalhar com arte e ser bastante chegado a música, eu sempre fui eclético no quesito musical e isso me despertava curiosidade em saber como funcionava o processo de produção de cada projeto artístico, mas acredito que o momento crucial que eu tive pra começar a querer produzir de verdade foi quando eu conheci o Trap e gostava de como os instrumentais soavam com bastante sintetizadores e graves fortes.”

No início, começou trabalhando com programas clássicos de produção de Beats, como o FL Studio, mas tudo isso sem sequer saber como funcionava uma DAW. Tudo era muito inicial, e com isso Fernando decide procurar tutoriais em sites e vídeos com produtores de maior experiência, mas ainda era um pouco mais complicado pois se tratava de um mercado novo e de uma nova vertente ao Rap tradicional. Com isso, toda a informação que encontrava, compartilhava e estudava com seu também parceiro em produção e divulgação, David Gomes. 

Foto de um computador e mesa de mixagem.

Os Beats produzidos por Nandx710 são separados em dois quesitos, o primeiro sendo beats normalmente produzidos com amigos que trabalham com ele, e em segundo aqueles com o intuito de vender licenças de beats, como ele detalha na entrevista:

“Já quando eu quero simplesmente colocar um beat à venda, antes eu realizo algumas pesquisas de tendências de quais estilos de beats estão em alta no momento, ex: Drake Type Beat, Travis Scott Type Beat e etc. Geralmente as pessoas estão procurando por beats com estilos de artistas específicos, então eu faço a criação desses beats baseado nesses artistas e coloco à venda para o público alvo deles.”

Nandx710 também revelou que nota muitas diferenças no que tange a aceitação do público quanto ao Trap no período em que começou a entrar na cena, com o atual momento de maior presença no mainstream. O preconceito com o novo gênero tem diminuído, e ressalta a importância de artistas pioneiros do gênero no Brasil, como o famoso Raffa Moreira:

“Lembro que no Brasil o rapper Raffa Moreira foi um dos primeiros a tentar trazer o subgênero pro país, no início da tentativa ele havia sofrido diversos preconceitos por tentar o estilo em si e hoje em dia ele é respeitado por vários artistas e fãs que acompanham a cena do Trap."

E a partir desse constante progresso do gênero na sociedade brasileira, que começou nas periferias brasileiras e hoje possui forte presença na cultura pop e tendo inúmeros festivais voltados ao Trap, Nandx710 vê com bons olhos essa tomada do Trap na indústria da música e da cultura de massa, por se tratar de uma vertente segmentada mas que vem somando forças com outros gêneros, do Rap ao Rock:

“O público que costuma ouvir Trap é um público muito fiel e presente aos artistas e o estilo do Trap é um estilo que abre portas para a criação de outros subgêneros derivados a ele, da mesma forma que o estilo do Trap de hoje tem algumas diferenças com o que era em 2016, acredito que daqui pra frente irá surgir artistas diferentes com estilos diferentes do que há no Trap, assim como tem ocorrido desde o início até os dias atuais.”

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